quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música do Mundo Podcast - Julho de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de julho de 2010. O programa deste mês tem 27 minutos, pesa 37 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 15 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, normalmente basta clicar.

O primeiro artista do programa chama-se A.R. Rahman. Ele é como um John Williams de Bollywood, a megaindústria cinematográfica indiana. Já vendeu mais de 150 milhões de discos no mundo todo. Foi chamado pela Time de "o Mozart das Madras". Ganhou o apelido tamil de Isai Puyal, em inglês: music storm. A mesma Time colocou Rahman entre as "100 pessoas mais influentes do mundo" em 2009. A trilha sonora de Quem quer ser um milionário? é dele, que tem dois Oscars em casa. Uma boa introdução à obra do artista é facilmente encontrada na Amazon. A música chama-se "Mettuppodu".

A música seguinte chama-se "Siyah Perçelerin Goinca Yüzlerin". O Google traduziu do turco para o inglês e sugere: "Tuft of black faces of the Goinca", o que não ajuda muito. Melhor ir aos músicos: Erkan Ogur e Djivan Gasparian. O primeiro é considerado o pai da guitarra fretless. O segundo é armeno e toca o Duduk, similar ao oboé. A Amazon diz que ele é uma verdadeira lenda viva no instrumento. O nome do disco onde está Siyah Perçelerin Goinca Yüzlerin é Fuad, mais difícil de ser encontrado. Uma contribuição de um amigo que esteve por aqueles lados.

A terceira canção chama-se "Queen Bee", uma gravação do legendário guitarrista Henry Saint Clair Fredericks, mais conhecido como Taj Mahal, com os músicos malis Toumani Diabete e Ramata Diakite. Está numa coleção da Putomayo chamada One World, Many Cultures.

A quarta música, "Ya Laymi", é de uma banda argelina: Gnawa Diffusion. Está também numa coletânea da Putumayo, chamada World Reggae.

Para terminar, o clássico de Gershwin "Bess, you is my woman now", na voz do senegalês Baaba Mal. A gravação é de um dos discos da série Red Hot, da Verve, em prol do tratamento da Aids.

Espero que seja do agrado,
até a próxima.

Música do Mundo
Julho de 2007
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sexta-feira, 25 de junho de 2010

A importância da campanha de Antanas Mockus

Apesar de derrotada no segundo turno das eleições presidenciais colombianas, realizado no último dia 19, a campanha de Antanas Mockus, do Partido Verde local, marcou um ponto importante na política sul-americana: a chegada da internet. Na briga com Juan Manoel Santos, ex-ministro da Defesa de Álvaro Uribe, que goza de aprovação superior a 70%, Mockus, ex-prefeito de Bogotá por duas vezes, conseguiu um lugar no segundo turno e algo em torno de 25% dos votos no âmbito nacional.

A façanha mesmo foi ter chegado ao segundo turno. Afinal, trata-se de um político de perfil diferenciado, foge da tradição tanto na origem quanto na linguagem, não possui alianças políticas expressivas e praticamente nenhuma representatividade no Congresso colombiano. Na Colômbia, como no Brasil, as máquinas regionais funcionam, e um candidato desse tipo não tem chances de vitória em um embate direto de segundo turno. O futuro, no entanto, pode ser diferente.

O principal movimento político de Mockus ocorreu entre março e abril desse ano, quando cresceu 20p.p. nas pesquisas. Ele tinha 3% em fevereiro. Mesmo que o empate técnico entre Mockus e Santos, apontado pelas sondagens uma semana antes do primeiro turno, não tenha se concretizado, Mockus conseguiu garantir um lugar no segundo turno com algo em torno de 65% da preferência jovem, entre 18 e 24 anos. Tamanho sucesso foi conseguido com amplo uso da internet, inclusive de redes sociais como o Facebook e o Twitter, marcando a primeira vez que o uso da rede causou um impacto realmente significativo na política de um país sul-americano.

É nesse sentido que, independentemente do resultado final da eleição, não se deve diminuir a importância da campanha de Antanas Mockus nas últimas eleições presidenciais colombianas. Está em campo um novo fator na política sul-americana: a internet. Segundo o index mundi, há hoje mais de 50 milhões de usuários no Brasil, em torno de 10 milhões na Colômbia e na Argentina e 5 milhões na Venezuela, no Peru e no Chile.

Mas a campanha de Antanas Mockus não se destaca somente pelo uso da internet, mas por um modo diferenciado de se expressar e se posicionar na rede. Muitos políticos sul-americanos já utilizam a World Wide Web. Dilma Roussef e José Serra no Brasil têm seus twitters, por exemplo. No entanto, Mockus foi o primeiro, ao menos na América do Sul, a entender que uma comunicação eficiente na internet exige uma linguagem diferente daquela normalmente utilizada nos veículos de comunicação de massa, um novo tipo de discurso, uma nova concepcão de imagem. Na web, o discurso político unilateral da TV, do rádio e do jornal parece anacrônico e limita as possibilidades de eficiência na comunicação política, denotando um problema clássico em contextos de transição tecnológica: o uso de uma linguagem antiga para um novo paradigma e uma nova estrutura de comunicação.

Como afirma a professora Leah A. Lievrouw, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, a comunicação de massa tradicional é do tipo "tubular", onde a produção e distribuição da mensagem estão amplamente concentradas, alguns poucos controlam a comunicação para uma ampla audiência. Nas novas mídias, a informação, o entretenimento, as redes sociais e os contatos interpessoais são gerados, mantidos e compartilhados de forma mais plural, multilateral ou comunitária, o que Leah Lievrouw chama de comunicação "de fronteira". Não à toa, conceitos como de "share" dos anos 1960, em torno do Woodstock, por exemplo, ganharam vida novamente desde os 1990.

Pois ao se analisar como Antanas Mockus utilizou o Twitter, o You Tube e o Facebook, fica clara a imagem de alguém que é parte de um movimento mais amplo que a própria campanha e que se move politicamente de baixo para cima. Isso é notório no vídeo principal da campanha: "Visionarios por Colombia", divulgado no You Tube. A abordagem se aproxima do modelo de fronteira de Lievrouw e por isso se torna bastante atrativa para usuários da rede que podem se sentir mais como agentes participativos do processo em vez de apenas alvos do discurso, menos como sujeitos passivos de um político que procura disseminar suas ideias e mais como constituidores da própria posição e plataforma políticas, uma linguagem pouco usual para aqueles acostumados com o ambiente "tubular" da comunicação de massa tradicional.

Um ponto fundamental, por exemplo, foi o uso de valores políticos e morais como plataformas em ambiente de eleição. Seu slogan principal, "La vida es sagrada", não apenas se apresenta como uma alternativa bastante interessante ao contexto colombiano de confronto entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), tema principal da Presidência Álvaro Uribe, mas também como um valor universal que aponta para a necessidade de que surja algo completamente novo. Só assim poderia-se romper um ciclo de violência que dura mais ou menos desde 1964, com sequestros, tráfico de drogas, violação dos direitos humanos e descaso total com a população local, especialmente no interior.

Mockus ainda deu forte ênfase na internet a outros dois valores: o da seriedade e responsabilidade do voto e o da consciencia, a necessidade de todos sermos conscientes dos impactos que nossas ações exercem sobre os outros e o meio ambiente.

Apesar da derrota, não se deve subestimar a importância da campanha de Antanas Mockus na política sul-americana. É verdade que não se ganha eleição somente com a internet, mas é bem provável que, em breve, nenhum político consiga se abster dela para chegar a vitória. Como um político pode combinar mundos comunicacionais tão diferentes sem perder a coerência será certamente um dos desafios mais complexos que as lideranças terão pela frente.

sábado, 5 de junho de 2010

O Espelho de Avatar

Não à toa, Pandora, o planeta de Avatar, é também a primeira mulher da mitologia grega. O nome embute uma qualidade feminina à natureza e provém de duas ideias: de “reunião” e de “dom” ou “presente”. Na mitologia, cada um dos deuses gregos contribuiu com uma característica específica, presenteada à Pandora, algumas inclusive sedutoras.

Em Pandora, habita uma população de humanóides, os Na’vi. Para a ocupação militar terráquea, trata-se de uma raça chegada a arcos e flechas e que vive "em meio a um gás tóxico que faz seu coração parar em um minuto". Na presença da mulher-natureza e do outro, os ocupantes de Pandora vivem e trabalham "em estado de ameaça permanente". Pandora “é o mais hostil ambiente conhecido pelo homem”.

A dificuldade de lidar com o "outro", em especial se o outro for feminino, representa um estado de insegurança permanente. Nesse contexto, nada mais propício do que se refugiar na técnica, chamar os cientistas à Pandora, com o objetivo de conquistar “corações e mentes” da população local. Ninguém se importa, mas a filosofia do programa espelha uma autoparanóia: se você se parecer com eles, falar como eles, eles confiarão em você. Se o mundo sou eu, não tenho inimigos. “Nós construímos escolas. Demos a eles estradas e medicamentos”.

No que diz respeito à sacralidade, Avatar reproduz a democratização protestante do sagrado. Afinal, qualquer um pode ser o escolhido. Não importa se negro, deficiente ou judeu. No entanto, são brancos os espíritos que abençoam, os espíritos mais puros. A sacralidade é branca. Brancas são as sementes da árvore sagrada.

Da mesma forma, o escolhido não surge para pregar, mas para ouvir. "Por que veio até nós? Vim para aprender", diz aquele que vive sonhando (dreamwalker). Vazio de conhecimento e de cultura, ou seja, no seu "estado de natureza" rousseauniano, ele está mais apto a entender o outro. Somente assim seria capaz de tal façanha. Não estaria tomado pelo medo. Os outros que se escondam na cidade sob a colina.

Para que um time de guerreiros possa acessar uma reserva gigantesca de Unobtainium, o material “inobtível”, os Na'vi terão que se mover.

O escolhido então, como Cristo, acaba condenado pelos seus pares, tornando-se traidor de sua raça. "Os Na’vi não vão abandonar suas casas", diz o traidor. "Não vão fazer qualquer acordo. Em troca do quê? Cerveja e shopping center?"

Ainda mais peculiar é que, antes da salvação, o "traidor" é crucificado. Ao ressucitar, luta contra o demônio red neck que põe abaixo uma árvore, como as torres no 11 de Setembro; seu adversário foi quem deu luz verde ao Massacre de Shabila.

No laboratório, cientistas e gerentes assistem a tudo, como um Big Brother. Na guerra das estrelas, a da morte não pode destruir a floresta das almas. Afinal, a grande-mãe não toma partido, apenas protege a dinâmica da vida.