segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Por que votar em Serra: alternância de poder e estabilidade institucional

Não tanto pelo candidato, muito menos pela campanha. De qualquer forma, o autor deste blog assume seu voto: José Serra. Pelos seguintes motivos.

Em primeiro lugar, pelas vantagens produzidas pela alternância de poder. Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram ambos governos com altos e baixos mas que em geral foram muito positivos para o país e se complementaram. O primeiro teve um papel histórico na estabilidade econômica brasileira e ainda conseguiu avanços significativos nos campos importantíssimos da educação básica e da saúde pública. O segundo soube manter os pontos positivos do programa econômico anterior e ainda reforçou políticas públicas importantes de distribuição de renda e geração formal de emprego. A alternância de poder traz mudanças nas prioridades de governo que acabam gerando benefícios para a sociedade de forma mais geral. Além disso, mantém fortes a oposição e o controle sobre o poder e impede que qualquer partido ou governo se sinta na posse do Estado – que na República pertence ao povo, a todo e qualquer cidadão.

Além disso, ao meu ver, a eleição de José Serra traz menos riscos à estabilidade das instituições brasileiras. O primeiro turno das eleições deste ano fortaleceu a aliança em torno do governo Lula e de um possível governo Dilma Rousseff na Câmara e no Senado brasileiros. PT e PMDB juntos possuem 372 de 513 votos na Câmara, onde o PT se tornou o maior partido com uma bancada de 88 deputados. Além disso, juntos, os dois partidos somam agora 34 de 81 votos no Senado, onde o PMDB tem a maior bancada, com 20 senadores. Juntos e com o apoio de um Executivo alinhado, os dois partidos têm força suficiente para implementar mudanças constitucionais no país. Uma Presidência José Serra, por outro lado, seria forçada a negociar mais com o Congresso brasileiro do que no caso de Dilma Rousseff.

Por mais que o Congresso e os partidos não tenham uma boa imagem entre os cidadãos brasileiros, é melhor um Congresso ruim que um Congresso que não exista. Melhor um Congresso forte que um Congresso fraco. Melhor ter um Congresso como contrapeso do que alinhado. O contrapeso mantém a estabilidade das instituições, que é o motor mais perene do desenvolvimento e do avanço. Quanto mais tivermos estabilidade institucional, mais podemos confiar nos rumos e nas decisões políticas, o que traz segurança a todos, inclusive aos investimentos. Teria sido o governo Lula tão positivo se não estivesse constrangido por instituições-chaves da política brasileira como o Senado e a imprensa?

Nesse sentido, o autor deste blog assume seu voto em 31 de outubro: José Serra, 45. Sobre a neutralidade de Marina e do PV, os verdes e o PSDB perderam uma oportunidade histórica. Os custos políticos aparecerão no futuro.

Música do Mundo Podcast - Outubro de 2010

Bem-vindo ao Música do Mundo Podcast, edição de outubro de 2010. O programa deste mês tem em torno de 25 minutos, pesa 34 megabytes e está no formato mp3. Seu download dura menos de 5 minutos. Como sempre, a dica para baixar o arquivo é utilizar o botão direito do mouse, no PC, ou o 'control+mouse', no mac, e pedir o download. Para ouvir, basta clicar.


O podcast começa com os franceses do Noir Desir. A música chama-se "666.667 Club" e abre o disco homônimo de 1998. Em seguida, uma versão do grupo inglês Placebo para a música antológica de Morrisey: "Bigmouth Strikes Again", eternizada pelo The Smiths.


Na sequência, o multiculturalista americano David Byrne, com a música "Angels", do disco de 1994 que leva o nome do cantor. Depois, a música "Captain Easychord", do antigo Stereolab, uma banda formada em Londres em 1990 cuja formação-base contava com a francesa Laetitia Sadier e o guitarrista e tecladista Tim Gane. Eles estão parados desde abril de 2009.


Em seguida, nosso grande Jards Macalé, com a música "Negra melodia", tirada do álbum Real Grandeza, que conta com músicas de Macalé em parceria com o poeta Waly SalomãoPara terminar, um clássico mexicano "Canción Mixteca", de autoria de José López Alavés, produzido por Ry Cooder para a trilha sonora de Paris,Texas, de Win Wenders.


Música do Mundo Podcast
Outubro de 2010
Clique aqui para acessar o arquivo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A vitória da agenda ambiental e a nova cara da oposição no Brasil

Se as instituições foram quem mais perderam nas eleições 2010, pode-se dizer desde já que a agenda ambiental foi a grande vitoriosa do pleito. É bem verdade que os quase 20 milhões de votos (19,33%) da candidata do Partido Verde (PV), Marina Silva, não vieram totalmente da consciência ambiental. Marina contou também com uma boa parcela do voto evangélico desconfiado de certas posições sensíveis a este grupo da candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, bem como da preferência dos eleitores que buscaram na candidata uma opção mais coerente de oposição ao governo em relação à errática campanha do candidato do PSDB, José Serra. Mesmo assim, não há como negar que o grande e mais forte símbolo da campanha de Marina Silva e do PV à Presidência foi uma agenda ambiental integrada a todo um novo modelo de sociedade no Brasil. Dessa forma, tanto Dilma Rousseff quanto José Serra terão que firmar compromissos nesse terreno se quiserem ter o apoio de Marina ou mesmo somente para avançar junto ao eleitorado verde, em especial entre aqueles que são realmente identificados com a causa.

Nesse ponto, Serra leva vantagem. Além de Marina Silva já ter experimentado na prática desavenças com o governo Lula, quando fora ministra do Meio Ambiente, PT e PSDB são aliados em vários estados brasileiros, em especial em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o que pode favorecer a aproximação dos dois partidos. Se o PT já mostrou uma certa incompatibilidade do seu projeto desenvolvimentista com o modelo ambientalista de Marina Silva, o PSDB tem a chance agora de firmar tal aliança na origem de uma plataforma política comum de nível nacional. Isso pode ser uma grande chance de renovação do PSDB e um forte impulso à agenda ambiental ao mesmo tempo.

Além disso, a oposição ganhou uma grande oportunidade de construir uma nova identidade política, algo que una as plataformas socialdemocrata e ambientalista. Se a oposição passou oito anos sem conseguir se diferenciar do governo Lula em termos de projeto político, pode estar aí uma possibilidade. Uma socialdemocracia ambientalista pela união do PSDB com o PV pode criar uma nova identidade no espectro político brasileiro que defina melhor as posições e, principalmente, a plataforma de oposição.

Afinal, Serra também deve à candidata Marina Silva sua presença no segundo turno das eleições. Segundo a Folha de São Paulo, três fatores pesaram no resultado do primeiro turno: 1) a queda de Dilma Rousseff entre os eleitores de classe C (com renda mensal entre R$ 1020 e R$ 2550) e entre os menos escolarizados – o que pode ser explicada pela desconfiança de certos setores evangélicos e pelos escândalos de corrupção e o acirramento do governo com a imprensa, que minaram a candidatura petista ao fim da campanha para o primeiro turno; 2) ao avanço de Marina Silva nessa mesma classe, com tendência de crescimento no Sul, Sudeste e Nordeste, bem como um apoio feminino de última hora à candidata; e 3) um movimento de recuperação de Serra em São Paulo e sua vitória no que a Folha identifica como o "arco do agronegócio", que inclui os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia – que pode ser explicada em função dos prejuízos que o atual câmbio valorizado gera à agricultura de exportação.

Entre esses fatores, diz a Folha, "pesaram mais a arrancada de Marina e a queda de Dilma. Em dez dias, a candidata do PV cresceu 5,5 pontos percentuais, considerando os votos válidos; Dilma recuou 7. Serra subiu 1,7 ponto percentual".

De fato, José Serra ganhou sobrevida e tem boas chances de apertar a disputa. Além da possibilidade da aliança com o Partido Verde, Serra ainda tem espaço para crescer em alguns estados importantes. O primeiro deles, claro, é Minas Gerais. Dilma teve 46,98% dos votos mineiros e Serra, apenas um pouco mais de 30%. O comportamento do senador eleito Aécio Neves será fundamental na disputa pelo segundo maior colégio eleitoral do país. No atual contexto, eleito senador e já tendo feito seu sucessor no governo do estado – seu candidato Antonio Anastasia teve a preferência de 62% do eleitor mineiro –, Aécio Neves teoricamente estará mais livre para trabalhar pela campanha de Serra.

Afinal, Aécio Neves não tem mais muito a perder. Se José Serra ganhar, o mineiro será líder do governo no Senado e candidato natural à sucessão. Se Dilma Rousseff ganhar, será líder da oposição no Senado e também seu candidato natural à sucessão. Nesse contexto, a opção de "cristianizar" a candidatura Serra em nome da competição interna ao partido pode ser perigosa para a imagem do ex-governador.

Além de Minas Gerais, José Serra pode também crescer no Rio Grande do Norte, onde a candidata do DEM ao governo do estado, Rosalba Ciarlini, venceu no primeiro turno, com 52,46% dos votos. No mesmo estado, Dilma obteve 51,76% dos votos, contra 28,14% de José Serra.

Da mesma forma, o candidato do PSDB também pode crescer no Tocantins. Seu companheiro de partido, Siqueira Campos venceu a eleição para governador do estado com 50,52% dos votos. No Tocantins, Dilma obteve 50,98% dos votos contra 27,99% de José Serra.

Outro estado onde Serra ainda tem margem ampla de crescimento é o Pará, em especial na capital Belém. No estado, um segundo turno será disputado entre Simão Jatene, do PSDB, que teve 48,91% dos votos, contra a atual governadora Ana Julia, do PT, que teve 36,05%. A governadora tem alta rejeição a sua gestão, marcada por várias suspeitas de corrupção. No Pará, Dilma Rousseff teve 47,93% dos votos, contra 37,69% de Serra. Na capital, Dilma obteve 37,25% dos votos; Serra, 35,2%, e Marina, 25,61%.

José Serra também tem possibilidades de crescer no Paraná e em Santa Catarina, estados definidos no primeiro turno em favor do DEM e do PSDB, respectivamente. Mesmo em São Paulo, Serra ainda tem espaço para crescer. Se o governador eleito Geraldo Alckmin obteve 50,63% dos votos, o candidato do PSDB à Presidência recebeu somente 40,66% da preferência do eleitor paulista.

Enfim, se a eleição parecia definida em favor do governo, após os resultados do primeiro turno a oposição ganhou sobrevida e tem amplos espaços de manobra para crescimento. Sem dúvida, Dilma Rousseff ainda é a favorita. Tem o presidente ao seu lado e 51% das intenções no segundo turno, segundo o Datafolha, contra 39% de Serra. No entanto, foi aberta uma oportunidade para a candidatura José Serra. Resta saber o que se fará dela. A agenda ambiental, por exemplo, seria um ponto de partida significativo e representativo da disposição da candidatura do PSDB de se reinventar.