sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dalrymple: "Nunca foi economicamente viável ocupar o Afeganistão"

Em entrevista ao fórum de debates internacional Intelligence Squared, o escritor e historiador escocês William Dalrymple explica porque a ocupação estrangeira sempre foi muito mal-sucedida no Afeganistão. Dalrymple conversou com Tony Curzon Price, editor-chefe do site openDemocracy, sobre o tema do seu novo livro: a primeira guerra anglo-afegã, disputada entre 1839 e 1842 e considerada pelo autor "a maior derrota da história do Império Britânico".

O novo trabalho do historiador sai em maio na Europa e nos Estados Unidos. Autor de oito livros – entre eles o sensacional The Last Mughal, que conta a história do último imperador mogol da Índia, Xá Zafar II, líder, na segunda metade do século XIX, de um dos maiores renascimentos culturais da história indiana –, Dalrymple nunca foi publicado no Brasil.

Cercado historicamente por grandes forças hegemônicas – os persas à direita, à Índia ao Sul, os chineses à esquerda e os russos ao Norte –, não é à toa que o Afeganistão, segundo Dalrymple, sempre foi palco de grandes disputas estrangeiras. Até por causa disso, diz o autor na entrevista, uma tradição forte de resistência e de que "every men is a ruler" se consolidou na cultura afegã. Dessa forma, não surpreende, inclusive, a dificuldade histórica dos afegãos de constituirem uma unidade até mesmo entre eles. "É muito difícil estabelecer uma autoridade na região", afirma Dalrymple. Os problemas do presidente Hamid Karzai não são de hoje.

Além disso, prejudica a unidade e a conquista um terreno árido, recortado por montanhas por todos os lados, perfeito para atividades de guerrilha, mas, principalmente, segundo Dalrymple, a total inviabilidade econômica do poder. "Não é como no caso do Iraque, por exemplo, onde um conquistador pode financiar os custos da ocupação com o petróleo", diz o autor. Ou seja, custos muito altos para o estabelecimento do poder, com benefícios econômicos reduzidos.

A lista de derrotados é vasta e imponente e inclui o antigo e poderoso Império Britânico, a União Soviética e provavelmente os Estados Unidos e a sua Otan, passando por Alexandre, o Grande. "Vamos deixar o Afeganistão em dois ou três anos sem termos conseguido nada", afirma Dalrymple sobre a presença norte-americana e britânica na região. "Gastamos milhões e o único ganho que temos é a educação das mulheres", completa, referindo-se à discriminação tradicional de regimes islâmicos e praticada pelo antigo governo Talibã.

Sobre o que poderia ter sido feito de diferente após o 11 de Setembro, Dalrymple não hesita em dizer que os governos do Ocidente exageraram a proximidade entre a Al Qaeda e Osama Bin Laden com os talibãs e que, apesar dos abusos do antigo regime afegão, teria sido melhor e possível negociar com aqueles que, de alguma forma, garantiam um relativa e difícil estabilidade no país antes da invasão ocidental.

O resultado é uma situação de impasse e instabilidade crônica produzida por uma ocupação absurdamente custosa e que nada trouxe de benefício ao país. "Não fizemos estradas, escolas. Não construímos redes de esgoto. Não levamos nada de positivo para o Afeganistão nesses dez anos", diz Dalrymple. Como se não bastasse, o autor chama a atenção, a ocupação criou um cenário perigoso de instabilidade no Paquistão, já comentado neste Blog. "Nesses últimos dez anos, a estabilidade no Paquistão foi totalmente erodida", completa.

Ao que tudo indica, a possibilidade é grande que os historiadores do futuro vejam o 11 de Setembro como marco histórico do fim da hegemonia norte-americana no mundo.



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