terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um diálogo entre Hannah Arendt e George Orwell

No terreno das potencialidades políticas da ficção científica, um diálogo a ser ressaltado é aquele entre o pensamento político de Hannah Arendt e a literatura política de George Orwell.

Duas obras em especial podem estabelecer o encontro: O que é política?, de Hannah Arendt, e 1984, de George Orwell.

A primeira foi organizada com documentos do espólio de Hannah Arendt. São sete manuscritos reunidos e comentados por Ursula Ludz, parte de um trabalho encomendado pelo editor de Arendt para um livro de "Introdução à política", nos anos 1950. A idéia era, nas palavras da autora: "Uma introdução ao que a política é, de fato, e com que condições básicas da existência humana a coisa política tem a ver". O projeto ficou de lado e não foi terminado depois que Hannah Arendt se voltou para a sua última obra: A condição humana.

1984 é o romance clássico de George Orwell. Finalizado em 1948 e publicado no ano seguinte, trata-se do ponto alto da obra de um autor que sempre teve a política como foco central, seja quando escreveu sobre o imperialismo britânico no Sul da Ásia, a Guerra Civil Espanhola, da qual participou, ou sobre Berlim recém-ocupada pelos aliados. Não à toa, outro trabalho de Orwell está entre os cânones da literatura política ocidental: Animal Farm ou, em português, A revolução dos bichos.

Pelo menos quatro temas importantes são compartilhados por Hannah Arendt e George Orwell: 1) a idéia da catástrofe científica, ou seja, a questão colocada pelas utopias negativas da modernidade; 2) a noção comum do totalitarismo como ausência da política; 3) o risco da desumanização e da mecanização tecnológica do homem e 4) a degradação da linguagem.

Na verdade, os temas comuns são muitos. Outro que pode ser também ressaltado é o uso da solidão pelo totalitarismo. No entanto, há também diferenças. Por exemplo, em torno do papel da esperança, do fazer diferente, do novo começo, algo muito presente no pensamento de Hannah Arendt mas que não aparece na obra de George Orwell, essencialmente pessimista.

Em Hannah Arendt, há certamente um sentido mais forte de esperança, calcado na sua concepção de ação descompromissada, livre e essencialmente política, com o potencial de iniciar algo novo, uma vida melhor para os homens, como diria Aristóteles. George Orwell, como escritor, não teve tal pretensão.

Para saber mais, leia:
go
Literatura e política
Jornalismo em tempos de guerra
Tradução: Sérgio Lopes
Jorge Zahar Editor

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