quinta-feira, 19 de abril de 2012

O caminho (contemporâneo) da servidão

No contexto do julgamento do extremista norueguês Anders Behring Breivik, que assassinou 77 pessoas na Noruega no último mês de julho, o site openDemocracy publicou, na quarta-feira, 18/04, um artigo do diretor do Norwegian Peacebuilding Centre (Noref), Mariano Aguirre. O texto, "The far right takes root in Europe", uma tradução do original em francês publicado pelo Le Monde Diplomatique, faz um alerta: da Holanda à Alemanha, da Grã-Bretanha à França, a extrema-direita só faz crescer na Europa, como provam os quase 20% dos votos recebidos por Marine Le Pen no primeiro turno das últimas eleições presidenciais francesas, disputadas no domingo, 22/04.

Segundo Aguirre, cerca de 30 partidos políticos que abertamente pregam uma "identidade pura europeia" estão em processo hoje de consolidação de suas posições, em vários parlamentos europeus. Ao mesmo tempo, organizações como a English Defense League, Plataforma Catalunya e Milítia Chírstí não param de crescer. Seus principais alvos: a comunidade islâmica e a classe política liberal, considerada responsável pela "deterioração da identidade cristã europeia".

O autor cita um estudo da Universidade de Nottingham que aponta para as plataformas principais dos partidos extremistas europeus: forte oposição à imigração (particularmente a muçulmana), à diversidade étnica e ao multiculturalismo. Ao mesmo tempo, tais organizações afirmam que os partidos tradicionais são demasiadamente softs nessas questões.

Além disso, Aguirre apresenta outro estudo, feito na Universidade de Bergen, que mostra a forte ligação entre o discurso anti-imigração, mas não deliberadamente racista ou anti-semita, e o sucesso eleitoral dos novos partidos extremistas na Europa. Segundo o pesquisador, o novo extremismo europeu é pró-americano e considera Israel um bastião da luta ocidental contra o avanço islâmico.

Ainda nesse contexto, Aguirre cita o best seller do economista social-democrata alemão Thilo Sarrazin, ex-membro do Conselho Executivo do Banco Central da Alemanha. Publicado em 2010, o livro projeta um declínio econômico e cultural da Alemanha, em função da imigração árabe e turca, segundo ele, de QI mais baixo. Em outubro daquele mesmo ano, lembra Mariano Aguirre, a chanceler Angela Merkel afirmou que o multiculturalismo havia falhado. Em seu primeiro discurso como primeiro-ministro britânico, em fevereiro de 2011, David Cameron disse exatamente o mesmo.

O fato é que as tradicionais democracias ocidentais estão em crise, com a situação na Europa e nos Estados Unidos. Por outro lado, nações com regimes centralizados como Rússia e, principalmente, China, despontam no cenário econômico internacional, junto com jovens democracias ainda em formação, como é o caso de Brasil, Índia e África do Sul.

Bom momento para lembrar dos alertas feitos pelo austríaco Friedrich von Hayek, sobre o perigo da tirania que inevitavelmente resulta do centralismo e do exagerado planejamento econômico estatal, feito no clássico O caminho da servidão, escrito no início dos anos 1940. A demanda por Estados fortes para conter crises econômicas, reforçada por discursos xenófobos e com base no sucesso de outras tiranias tem resultado tão trágico quanto conhecido.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O estado do mundo, 2012

Worldwatch Institute lança seu balanço anual de olho na Rio+20

A organização ambiental Worldwatch Institute lança, no próximo dia 11 de abril, em Washington, seu balanço anual sobre o estado do planeta, o State of the World 2012: Moving Toward Sustainable Prosperity. Para a organização, 20 anos e muitas conferências depois da ECO 92, a humanidade nunca esteve tão perto do colapso ecológico.

Logo na apresentação do trabalho, cuja versão em português será lançada no Rio, nas vésperas da conferência da ONU na cidade, em junho, o instituto alerta para o fato de que hoje no mundo um terço da humanidade vive em situação de pobreza e 2 bilhões de novos seres humanos se juntarão a nós, 7 bilhões, nos próximos 40 anos. Com isso, pergunta o instituto, como proporcionar melhores condições de vida aos desprovidos que aqui estão, bem como àqueles que virão, sem causar novos danos ambientais a um planeta já em pleno declínio ecológico?

Como afirma o presidente da organização, Robert Engelman, no prefácio do mais novo State of the World, em algum momento as emissões chegarão a um pico e terão que declinar. Em algum momento, os índices de fertilidade terão que ser reduzidos.

"Este trabalho é o foco principal de um projeto mais amplo que continuará tentando chamar a atenção de todos para a necessidade de ações mais efetivas em prol de empregos e trabalhos mais limpos ecologicamente, fontes de energia mais sustentáveis, cuidados ambientais com a alimentação e a água potável, com os oceanos e as cidades", afirma Engelman. "Em suma, continuaremos tentando chamar a atenção de todos para a necessidade de uma prosperidade global mais equilibrada e que possa ser sustentável ao longo dos próximos séculos".

Apesar de muitas vezes ainda não levado a sério, o problema ambiental trouxe e traz grandes contribuições para o âmbito da cultura política. Não serão leis ou governos, apesar de importantes, os motores fundamentais de uma mudança nesse terreno. Será necessária toda uma nova cultura não só de produção e consumo, como normalmente se imagina, mas também e principalmente política. A questão energética, bem como a desigual distribuição da riqueza no mundo, por exemplo, são absolutamente dependentes de uma concepção de política internacional calcada na velha e violenta competição pelo poder, repleta de valores negativos como o egoísmo nacional e o materialismo. O debate sobre o meio ambiente questiona a reprodução sem reflexão, por governos, pessoas ou empresas, de práticas sociais e lógicas tão defasadas quanto destrutivas. Esta talvez seja sua principal contribuição.