sexta-feira, 4 de maio de 2012

Corrupção e comunicação política no Brasil

O cenário de crise da comunicação pública que boa parte da literatura especializada de Comunicação e Política aponta, a partir de análises sobre o contexto das democracias nos Estados Unidos, Canadá e Europa, cai como uma luva no Brasil. Em especial em meio a mais um grande escândalo político de corrupção no país.

Afinal, a capacidade da mídia de massa de servir à cidadania e à democracia tem sido crescentemente contestada ao longo das últimas décadas e há muitas controvérsias sobre a natureza e a qualidade da contribuição dos meios de massa para a deliberação pública democrática. Alguns temas levantados, por exemplo, são a qualidade argumentativa da esfera pública mediada pelos meios tradicionais, o fato destes serem parte de grandes conglomerados industriais de entretenimento, a presença marcante da lógica comercial no coração do debate político social, bem como a baixa representatividade das posições no debate público midiático. Afinal, os debates mediados pelos tradicionais meios de massa podem dar voz à pluralidade e autenticidade de interesses, vontades, desejos e posições expressados na sociedade civil?

Além disso, há, segundo alguns estudos, um certo reforço à despolitização alimentado pela centralidade da mídia tradicional nos processos políticos contemporâneos. O argumento surge a partir da constatação de que o próprio jornalismo de massa se pretende como um elemento não-político, prerrogativa que de fato sustenta, ao menos em tese, sua legitimidade e credibilidade com o público. Tal qualidade, no entanto, pode acentuar a preocupação com personalidades e eventos, em detrimento do debate sobre políticas (policies), propriamente ditas. Da mesma forma, vários são os que acusam os meios de massa de colocar o cidadão numa posição passiva frente ao espetáculo político, que mistura de forma cada vez mais difusa entretenimento e informação. O resultado disso tudo seria um enfraquecimento notório da participação política e uma própria visão disseminada de descrença total e completa na política.

Não à toa, para alguns autores, há um excesso claro de cinismo na comunicação política de massa, uma notória exposição dos esforços por parte dos políticos de manipular a sua publicidade ou imagem na mídia, gerando artificialidade, e um crescente fluxo de mensagens negativas. Com isso, forma-se uma imagem reduzida e altamente pejorativa do político, como alguém que se preocupa apenas com o poder e a projeção pessoal, não se afeta com os problemas da maioria das pessoas e é incapaz de falar com sinceridade.

Como se não bastasse, há problemas gerados pela representação da política como um jogo (ou uma “corrida de cavalos”, durante eleições). Tais perspectivas, ou mesmo enquadramentos, para alguns autores, esvaziam o debate de substância. Assim, a comunicação política moderna é vista de forma bastante generalizada como um produto da propaganda persuasiva, aliada a um jornalismo que trata o discurso político como algo inerentemente enfadonho.

Para alguns autores, trata-se de uma “ironia do presente”. Enquanto as democracias enfrentam hoje problemas urgentes que requerem um considerável esforço de formação de consensos, é rara a oferta de discursos políticos construtivos na mídia tradicional e na comunicação política de massa.

O combate à corrupção e o controle midiático e social sobre a conduta da classe política, claro, têm sua relevância em qualquer regime democrático. No entanto, o quanto a questão toma tempo, espaço e atenção do público e da própria classe política como um espetáculo midiático é um tema para não ser desprezado.

Leia mais em:
- BENNETT, W.L., ENTMAN, R.M. Mediated Politics: Communication in the Future of Democracy. Cambridge, Cambridge University Press, 2001.
- CAPELLA, J.N., JAMIESON, K.H. Spiral of Cynicism: The Press and the Public Good. Oxford, Oxford University Press, 1997.
- COLEMAN, S., BLUMLER, J.G. The Internet and Democratic Citizenship: Theory, Practice and Policy. Cambridge, Cambridge University Press, 2009.
- GOMES, W. Transformações da política na era da comunicação de massa. São Paulo, Paulus, 2004.
- GOMES, W. e MAIA, R.C.M. Comunicação e democracia. Porto Alegre, Editora Meridional/Sulina, 2008.
- MAIA, R.C.M, GOMES, W. e MARQUES, F.P.J.A. Internet e participação política no Brasil. Porto Alegre, Editora Meridional/Sulina, 2011. 
- MIGUEL, L.F. e BIROLI, F. Mídia, representação e democracia. São Paulo, Hucitec, 2010.

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