sábado, 8 de fevereiro de 2014

O nome da alternância em 2014

Eduardo Campos é mais forte pelo simples fato de estar à esquerda de Aécio.

Em outubro de 2010, às vésperas do segundo turno das últimas eleições presidenciais, esta coluna deu seu apoio ao candidato José Serra, em nome dos benefícios da alternância de poder para o país. Na época, escrevi que as vantagens produzidas pela alternância no Brasil recente eram claras.

"Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram ambos governos com altos e baixos mas que em geral foram muito positivos para o país e se complementaram. O primeiro teve um papel histórico na estabilidade econômica e ainda conseguiu avanços significativos nos campos importantíssimos da educação básica e da saúde pública. O segundo soube manter os pontos positivos do programa econômico anterior e ainda reforçou políticas públicas importantes de distribuição de renda e geração formal de emprego. A alternância de poder traz mudanças nas prioridades de governo que acabam gerando benefícios para a sociedade de forma mais geral. Além disso, mantém fortes a oposição e o controle sobre o poder e impede que qualquer partido ou governo se sinta na posse do Estado".

Pois, em 2014, tudo indica que o nome da alternância é o candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB) Eduardo Campos, pelo simples fato de que Campos está à esquerda de Aécio. Em uma repetição do segundo turno entre PT e PSDB, eleitores do PSB e da Rede, de Marina Silva, até agora engajada na campanha socialista, tendem a votar novamente no PT, diminuindo as chances dos tucanos.

Na verdade, mesmo que um eventual apoio de Campos a Aécio no segundo turno possa reduzir o estrago, dificilmente fará os eleitores de Marina Silva votarem no PSDB. É difícil, inclusive, não acreditar que um dos motivos das derrotas seguidas dos tucanos no segundo turno é que eles foram jogados para a direita pelo PT e o discurso paulista conservador de José Serra e Geraldo Alckmin, em contraposição ao humanismo liberal de Fernando Henrique Cardoso e o progressivismo de Mario Covas e seu "choque de capitalismo", que o PSDB, em seu site, transformou erroneamente em "choque do capitalismo".

Nesse sentido, a posição de Campos à esquerda de Aécio o torna mais aglutinador, numa tortuosa aliança com Marina Silva. Se Marina tende novamente a não apoiar o PSDB no segundo turno – será o senador mineiro capaz de dobrar a militante ecológica evangélica do Norte? –, Campos pode aglutinar tucanos e marinistas no embate contra a presidente.

Ao mesmo tempo, quase 12 anos como o maior partido da oposição parecem não ter sido suficientes para o PSDB consolidar um discurso e se apresentar como uma opção verdadeiramente diferenciada à sociedade brasileira. Em vez de defender seu progressivismo liberal e atacar as mazelas perenes da oferta de serviços públicos básicos à população – ao fim, foram precisos centenas de milhares de brasileiros nas ruas para que esses temas realmente viessem à tona –, o partido manteve-se em geral preso, às vezes sem muita legitimidade, às agendas econômicas e morais da política nacional.

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